quinta-feira, 18 de novembro de 2010

De cavalo para burro

Basta dar uma voltinha ao quarteirão para vermos passar meia dúzia de viaturas afectas a uma qualquer escola de condução, “conduzidas” por um qualquer – sempre muito compenetrado – instruendo, acompanhado pelo instrutor, tantas vezes com ar apreensivo como quem pensa no que diabo terá feito para ter que aturar as asneiras da criatura que se senta ao seu lado.

Não está em causa, neste post, a arte de conduzir ou a arte de ensinar a conduzir, mas, isso sim, os meios colocados à disposição dos futuros condutores para aprender, muitos deles, a dar os primeiros passos ao volante de um carro.

Há uns anos atrás, viam-se muitos Volkswagen Golf nas escolas de condução, carros excelentes para a missão a cumprir, uma vez que não havia direcção assistida (ou, se havia, ainda era daquelas de gerações antigas e um gajo quase não dava por isso), nem sistemas de ajuda à condução, como ABS, sensores de estacionamento e afins.

Mesmo para aqueles que nunca tinham pegado num carro, os carros de há 20 anos atrás obrigavam o aluno a fazer mais força na hora de virar o volante ou a estar com mais atenção na hora de engrenar uma mudança, uma vez que as caixas sincronizadas ainda não estavam tão apuradas como as de hoje e qualquer pequeno erro provocava um ruído infernal.

Hoje, os aspirantes a condutores aprendem a manusear os pedais, volante e demais componentes dum habitáculo automóvel de rabinho confortavelmente sentado ao volante de viaturas como BMWs, Renaults Meganes da última geração, Seats Leon e semelhantes.

Parece-me, por isso, que há qualquer coisa de muito errado neste sistema de ensino, uma vez que não é nada expectável que um tininho de 18 ou 19 anos acabe de tirar a carta e vá, desde logo, conduzir um BMW, Mercedes, Audi, Aston Martin ou coisa parecida.

Bem pelo contrário, com a crise que se avoluma cá no burgo, o mais certo é que o recém encartado vá comprar um carro de gama mais baixa, tantas vezes em segunda ou terceira mão, em vez de optar por uma viatura mais recente.

Quer isto dizer que o jovem (ou não) condutor vai entrar num – imaginemos – Peugeot 106 e vai ficar embasbacado à procura da ranhura onde introduzir aquela coisa que tem na mão chamada chave.

Sim, porque a maior parte dos Meganes e dos BMWs já não usam chave e recorrem a um cartão e a um botão Start/Stop.

Ou vai ficar a pensar como é que raio acende as luzes ao entrar dentro dum túnel, porque os carros actuais (aqueles que referi como carros de instrução) utilizam sensores que fazem ligar os médios quando detectam uma luminosidade abaixo de certos parâmetros.

Ou vai esquecer-se de pôr o cinto de segurança porque não aparece a respectiva luzinha no tablier nem ouve um besouro irritante a dar-lhe cabo da carola.

Antes de aprendermos a andar, começámos a gatinhar, e aqueles que começaram logo a andar fizeram-no aos tropeções e foram aperfeiçoando essa arte.

O mesmo devia acontecer quando se começa a guiar…

2 comentários:

Kruzes Kanhoto disse...

È verdade. Aprendi a conduzir num daqueles Peugeot com mudanças no volante...Quando passei para o Fiat 127 foi uma chatice!

João C Gonçalves disse...

Estás a ver uma rapariga a aprender a conduzir num BMW 120d e, depois, passar para o Fiat 127? Eheheh