quarta-feira, 23 de março de 2011

A República explicada às crianças

Monarquia é uma forma de regime em que o chefe de Estado é um rei ou uma rainha.

Ao contrário do regime republicano, o rei não é eleito, e a representação do país está numa pessoa cujos antepassados participaram na construção e na História do país.

Por isso não são estranhos ao povo e, como os príncipes criados para reinar não precisam de ter uma carreira política, conhecemo-los desde a infância até à idade adulta, quando assumem o cargo de Chefe de Estado.
Já viste o que seria se tivesses de escolher os teus pais, ou os teus pais dissessem: eu tenho o direito a escolher o filho que quero? Passa-se o mesmo na República.

O nosso Chefe de Estado, em vez de ser alguém que conhecemos e gostamos desde pequenino, é apenas um político que quer um emprego e representa o país durante 5 ou 10 anos e depois vai-se embora...

A nossa monarquia durou, como sabes, 771 anos, pois em 1910 um golpe de estado expulsou o rei D. Manuel II, a sua mãe e a sua avó para fora do país.
Isso foi bom ou foi mau? Deve caber a ti estudares para compreenderes as alterações dessa época, mas gostava de te explicar que a República instaurada em 5 de Outubro de 1910 não veio trazer a democracia a Portugal.

Nessa altura o nosso país já tinha liberdade. As pessoas podiam votar e a Imprensa publicava todas as críticas que queria.

Ao contrário do que a propaganda republicana tem dito, a democracia foi introduzida em Portugal em1834, suspensa algumas vezes até 1926  e neste ano definitivamente silenciada, dando origem a uma das mais longas ditaduras de sempre, em todo o mundo! Foi o Estado Novo ou Segunda República, que durou de 1933 até 1974!
Neste ano a Democracia voltou a Portugal, pela Revolução de 25 de Abril, como decerto já ouviste falar.

Em 771 anos tivemos 33 monarcas, o que perfaz uma média de cerca de 22 anos por reinado.
Compreendes a importância desta estabilidade? Em 100 anos de República, de 1910 a 2010 tivemos 19 presidentes, o que se traduz numa média de 5 anos por mandato, alguns deles conflituosos, pois o presidente procura fazer os possíveis para agradar aos eleitores e ao partido ou partidos que o apoiam.

Não está ali simplesmente para representar o país, mas para se representar a si mesmo e a quem vota nele...

Também tivemos algumas rainhas e regentes, mais ainda não tivemos nenhuma mulher presidente da República!



Mas, então, perguntarás, se a monarquia tinha vantagens, porque terminou? Bem, como tens visto na televisão, em relação às revoluções no estrangeiro, nem sempre estas revoluções são populares.
Muitas vezes, um grupo pequeno, bem relacionado e que recorra à violência pode derrubar regimes.

Foi o que aconteceu em Portugal. Os republicanos estavam em menor número, mas:
  
- aproveitaram-se do desgaste partidário, ocasionado pela alternância constante entre 2 partidos no poder;
- aproveitaram-se das ideias nacionalistas de pátria e de herói para fazer passar a sua mensagem;
- fizeram ataques ferozes ao Rei D. Carlos e à sua família, espalhando boatos e criando uma imagem negativa da monarquia que diziam despesista e ostensiva;
- recorreram à violência através de uma organização terrorista, chamada Carbonária, que assassinou o Rei e o seu filho, de 21 anos, D. Luís Filipe, em 1908 (foi o Regicídio) e através de uma organização secreta que ainda hoje existe, a Maçonaria, conseguiram controlar o exército e alguns políticos;
- e, finalmente, como o país, infelizmente, ainda era constituído essencialmente por pessoas iletradas, culturalmente pouco informadas, facilmente o Partido Republicano pode controlar os cidadãos, com mensagens demagógicas e inflamadas. (É por isso que deves estudar e questionar tudo para seres um adulto com consciência cívica!)


Depois de instaurada a República, sucederam-se imensos atropelos à liberdade que o novo regime tinha prometido.
Pessoas foram perseguidas por serem católicas, monárquicas ou simplesmente por não colaborarem com o novo regime. E os próprios republicanos lutaram entre si para conquistar e aguentar o poder.
Em 1914 a república levou milhares de jovens a entrar na I Grande Guerra. Muitos morreram e o país desmoralizava perante uma crise económica, social e política.

Todos os dias havia atentados em Lisboa, o governo caía e os presidentes demitiam-se ou eram demitidos por golpes de estado.

Entre 1911 e 1926 houve quase 50 governos!

Porém, a Monarquia sempre foi uma alternativa democrática em Portugal, tanto durante a Primeira República, como durante o Estado Novo e mesmo hoje.

A Europa, como deves saber, é praticamente constituída por Monarquias Constitucionais, como Portugal o era antes de 1910. 
Monarquias Constitucionais e/ou Parlamentares são aquelas em que o Rei não governa (para isso existe o Primeiro-Ministro e o seu Conselho de Ministros que nós elegemos), cabendo-lhe apenas a representação e a regulação das instituições do seu país.

Por isso países desenvolvidos como a Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e, aqui ao lado, Espanha são monarquias.

E fora da Europa encontramos muitas mais: Japão, Marrocos, Jordânia, etc.

O Reino Unido, por exemplo, e a Comonwealth, que estende pelo Canadá e pela Austrália, entre outros países, cuja chefe de Estado é a rainha Isabel II.
Não há regimes perfeitos. Nem pessoas. Acima de tudo deves procurar saber o que melhor serve a tua nação e pensar por ti.

Não grites “Viva a República!” sem perguntares a quem to manda fazer, se existe uma alternativa e se essa alternativa é melhor ou pior.

Acima de tudo sê um cidadão informado pois só assim podes construir um país melhor e contribuir para um futuro mais sorridente a quem viver em Portugal nos próximos anos.

E que estes anos sejam mais pacíficos e prósperos do que foram os últimos 100!

Nuno Resende no Obliviário

Sem comentários: